Audiência Pública no Senado debate dopagem no fisiculturismo e formas de combater o tráfico de anabolizantes

Publicado em Quarta, 03 Abril 2019 16:45
As denúncias de uso de substância dopantes, principalmente anabolizantes, nos treinamentos e competições de fisiculturismo foram debatidas, nesta quarta-feira (03.04), em Audiência Pública na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal, em Brasília.
 
O diretor técnico da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), André Siqueira, ressaltou que a dopagem é uma fraude ao espírito esportivo e que o governo trabalha para proteger os atletas limpos. “Zelamos pela saúde do atleta. Nossa missão é levar ética ao esporte. A dopagem é contra tudo que o esporte prega, é jogar sujo, é trapaça no ambiente esportivo. Temos que combater tudo que vai contra o Jogo Limpo, não podemos nos conformar com a trapaça”, disse. 
 
Segundo André Siqueira, a ABCD realizou 7.600 testes de controle de dopagem em atletas de 50 modalidades em 2018. O diretor ressaltou que a entidade executa testes em competições promovidas por entidades signatárias do Código Mundial Antidopagem, que seguem as diretrizes da Agência Mundial Antidoping (Wada).
 
Foto: Geraldo Magela/Agência SenadoFoto: Geraldo Magela/Agência Senado
 
“Existem atletas que competem em eventos de organizações que não são signatárias a Wada. A ação sobre esse atleta é muito restrita. Não posso fazer teste nele, não posso mandar para o tribunal, não posso condena-lo. Até porque se ele for condenado a dois, três ou quatro anos ele vai continuar competindo no dia seguinte, porque é parte de uma organização que é fora do sistema”, esclareceu o diretor.
 
Para o presidente da CAS, o senador Romário (Pode-RJ), o problema da dopagem é uma questão de toda a sociedade brasileira. “A gente espera que definitivamente possamos exterminar o doping no esporte, porque é uma questão de saúde e também de segurança pública, porque mata pessoas”, disse. 
 
Romário anunciou que vai pedir aos órgãos de segurança que impeçam a realização de eventos de fisiculturismo que se recusem a realizar testes de controle de dopagem. “A gente vai fazer um comunicado à Polícia Federal e às polícias locais para fechar todos os eventos que tiverem a participação direta de dopagem. Fui atleta e sei do significado do doping. Trata-se de uma praga. É um crime que desmoraliza o esporte e compromete a saúde de milhares de brasileiros que praticam atividades físicas em academias”, afirmou.
 
Para a presidente do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TJD-AD), Tatiana Mesquita Nunes, a dopagem é mais do que uma questão esportiva. “Debater a dopagem é uma questão de saúde pública. Ela é também social, de exemplo para a sociedade como um todo. Tanto que o anabolizante é disparado a primeira substância mais encontrada nos testes. A segunda são os diuréticos, que são agentes mascarantes de outras substâncias. Isso é extremamente preocupante”, destacou.
 
A senadora Leila Barros (PSB-DF), ex-jogadora de vôlei que disputou quatro edições de Jogos Olímpicos, lembrou do período de atleta, quando dedicava aos treinos diários, abdicou da adolescência e da família, sem a necessidade de utilizar substâncias proibidas para aumentar a performance esportiva.  
 
“A questão da dopagem não é um problema só do esporte, mas da sociedade. O esporte está monitorado, por meio da ABCD, mas é um problema de saúde pública ao perder os jovens para o culto do corpo. Temos que ter uma maior fiscalização nas academias, o trabalho junto aos professores de educação física e discutir de forma aprofundada. O esporte virou um grande negócio para a indústria de entretenimento e o grande garoto propaganda do uso de substância de performance é o atleta. Os atletas estão sendo usados por essas pessoas que estão utilizando o esporte de forma errada”, frisou. 
 
Segundo Tatiana Nunes, acompanhar a evolução das práticas fraudulentas é o grande desafio no combate à dopagem: “O nosso primeiro desafio no controle de dopagem é conseguir acompanhar as inovações, porque todo o sistema de médico, de nutricionista e de coaching, que gera muito dinheiro, faz com que as inovações estejam sempre à frente. A Agência Mundial Antidoping adiciona novas substâncias proibidas na lista, mas amanhã surgem outras substâncias que os atletas vão utilizar”.
 
A audiência contou com a presença do presidente da Confederação Brasileira de Musculação, Fisiculturismo e Fitness (CBMFF), Maurício de Arruda Campos. “O uso de drogas para a melhoria de performance é um problema de todos os esportes, não só do fisiculturismo. Hoje, a moçada mais nova perdeu a noção de tempo. O corpo que um fisiculturista demoraria 10 ou 15 anos para conseguir eles querem conquistar em poucos meses”, afirmou. Campos, que também é diretor da Comissão de Educação e Pesquisa da International Federation of Bodybuilding & Fitness (IFBB), denunciou que empresários inescrupulosos estão realizando festivais e competições, no Brasil e no mundo, em que o uso de anabolizantes não só é liberado como estimulado. 
 
Breno Barros – Ministério da Cidadania