Videorreportagens, textos e fotos mostram como os projetos são colocados em prática e os resultados alcançados em todo o país.
Informações: (61) 3217-1875E-mail:O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
Sinônimo de persistência, Robson Conceição se torna o primeiro campeão olímpico do boxe brasileiro
- Detalhes
- Publicado em Terça, 16 Agosto 2016 23:03
“Nunca desistir. O caminho é longo, mas a vitória é certa”. A frase que inspira Robson Conceição resume a extensa trilha que o baiano de 27 anos percorreu até a consagração nesta terça-feira (16.08). Foram três ciclos olímpicos, contando Pequim e Londres, para ele, enfim, se tornar um medalhista olímpico. O sonho se concretizou no Pavilhão 6 do Riocentro, quando o árbitro levantou o braço do brasileiro e decretou a vitória contra o francês Sofiane Oumiha por decisão unânime na final do peso-leve (até 60kg).
Assim, o menino que chegou a vender picolé na praia e que continua com voz serena, tranquila e sotaque carregado de baianidade, ser o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha de ouro no boxe. O pódio inédito consolida a força da terra dos melhores pugilistas do país, conhecida como “Cuba brasileira”.
“Hoje fiz história, mas é só um reflexo de anos de dedicação e luta. Estou muito feliz. Ainda estou sonhando e não quero acordar nunca”, afirma o campeão, morador agora ilustre do bairro de Boa Vista de São Caetano, em Salvador. O pódio de hoje é o quinto do Brasil na história do boxe olímpico. “Olhando para a minha infância humilde, chegar aqui é tudo. Ter a torcida cantando ‘é campeão’ e me empurrando para a vitória foi uma experiência incrível”, diz o pugilista.
Ansiedade
A persistência é uma de suas características marcantes. Robson subiu ao ringue em Pequim, em 2008, e em Londres, em 2012. Em ambas, perdeu na luta de estreia. “Eu falo para os outros atletas nunca desistirem. Se fosse pela derrota, eu não estaria aqui. Quando comecei no boxe, fiz dez lutas e perdi todas. Pense no quanto apanhei. Mas, se tivesse desistido, hoje não seria campeão olímpico”, frisa.
Desde quando venceu o seu grande adversário, o cubano Lazaro Alvarez, na semifinal dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Robson Conceição esperava ansiosamente pela final. Manteve os pés no chão e mostrou humildade nas declarações, mas não deixava de acreditar que o ouro poderia ser questão de tempo.
Em 2009, ele quase abandonou a modalidade. Na época, o baiano não quis morar em São Paulo para treinar com a seleção. Saiu da equipe principal e perdeu apoio financeiro. A Bolsa Atleta do Ministério do Esporte virou a única fonte de recursos.
Já no ciclo para o Rio, o caminho até o ouro contou com o apoio financeiro do Bolsa Pódio do Ministério do Esporte – no valor de R$ 15 mil mensais –, além de estrutura montada pela confederação para a Seleção. Robson dedicou 100% de suas atenções ao esporte, com foco exclusivo em representar o país no Rio 2016.
Foram duas bases de treinos. Uma em São Paulo, com a seleção principal, e outra em Salvador, onde treina com Luiz Dórea – um dos principais treinadores do país, que carrega no currículo grandes nomes do esporte, como o do ex-pugilista Popó e do MMA.
Final olímpica
A final da categoria até 60kg fechou a noite desta terça-feira no Pavilhão 6 do Riocentro. Foi o primeiro confronto entre os dois pugilistas. O francês vinha de vitória sobre o atleta da Mongólia Otgondalai Dorjnyambuu – segundo melhor do mundo. Na análise de Conceição, a receita foi buscar a vitória clara, sem contestações possíveis, sempre. “Nunca podemos depender dos jurados”, sentencia.
Adversário da final, Sofiane Oumiha reconhece que Robson foi melhor e elogia a participação intensa da torcida brasileira. "Eu tentei dar o meu melhor, mas no fim ele foi o vencedor, mesmo. A prata sempre envolve um grau de desapontamento, mas logo depois percebi como era sortudo de estar onde estou e me sinto orgulhoso", destaca o francês. "Eu nunca havia tido a experiência de ter uma multidão contra mim, mas achei magnífico. O público brasileiro estava o tempo todo com Robson”, completa.
A medalha olímpica soma-se a outras conquistas. Robson foi bronze no Mundial de Doha, em 2015; prata no Mundial de Almaty, em 2013; ouro no Continental Pan-Americano de Santiago, em 2013; prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011; e ouro no Pré-Olímpico da Guatemala, em 2008.
Caminho do ouro
O caminho até o ouro começou no dia 9 de agosto. O primeiro desafio foi contra o pugilista Anvar Yunusov, do Tajiquistão. O brasileiro venceu por nocaute técnico. Nas quartas de final, Conceição superou por decisão unânime dos árbitros a Hurshid Tojibaev, do Uzbequistão.
Passar pela semifinal era o maior desafio desde que ficou desenhado o sorteio da chave. Robson enfrentou um de seus maiores adversários na categoria até 60kg. Combate considerado como final antecipada, o brasileiro venceu o cubano Lazaro Alvarez, número 1 do mundo, tricampeão mundial e medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, em decisão dividida.
“Estávamos empatados com uma vitória cada. Com o apoio da torcida, mandando eu ir para cima e mandando mensagens nas redes sociais, consegui vencer. Mostrei muita técnica, muita vontade de lutar e penso que impressionei a todos”, ressalta o brasileiro, logo após o combate contra Alvarez.
Os sonhos de Robson Conceição não terminaram após a medalha olímpica. Depois do Rio 2016, ele pretende lutar profissionalmente. O desejo é competir até os 35 anos e realizar outro feito: ser campeão do mundo.
Trilha olímpica
Ao longo do ciclo olímpico atual, nove pugilistas foram contemplados com a Bolsa Pódio, resultado de um investimento total de R$ 1,8 milhão. Além disso, a Bolsa Atleta somou mais de R$ 7,3 milhões entre 2012 e 2015, na concessão de 587 bolsas, nas categorias nacional, internacional e olímpica.
O Ministério do Esporte investe na modalidade por meio de convênios com a Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe). O primeiro foi em 2010, no valor de R$ 111 mil, e permitiu a aquisição de três ringues, 15 sistemas eletrônicos de pontuação e material esportivo.
“Gostaria de agradecer a todos que me apoiaram e me incentivaram. O trabalho realizado no boxe vem sendo feito há muitos anos. Para se ter resultado não adianta se dedicar em pouco tempo”, finaliza o campeão olímpico.
Breno Barros, brasil2016.gov.br