Histórico

Última atualização em Quinta, 31 Outubro 2013 22:30
Escrito por Breno Barros Pereira
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Jogos dos Povos Indígenas
“O Importante não é competir, sim celebrar”

Durante 508 anos, os povos indígenas ficaram à margem da sociedade brasileira, idealizada de acordo com os critérios de “civilização” adotados pelo colonizador a partir do primeiro contato. Como uma das mais graves conseqüências desse isolamento, inúmeras comunidades e povos foram dizimados, restando hoje apenas 450 mil indígenas, que vivem em praticamente todo o território brasileiro, exceto em dois estados: Piauí e Rio Grande do Norte.

A diversidade cultural dos povos indígenas brasileiros é hoje representada por cerca de 230 etnias que vivem em suas terras originais e que ainda mantêm vivas aproximadamente 180 línguas. São povos diferentes entre si, cada um com sua identidade cultural, manifestações, usos, tradições, costumes, habilidades tecnológicas, organização social, ritos, crenças, filosofias, espiritualidades e esportes tradicionais peculiares.

Até pouco tempo atrás, esses dados eram pouco conhecidos e divulgados. Não havia um mecanismo que pudesse resgatar e incentivar as práticas das tradições indígenas em sua essência. Foi quando, em 1980, os irmãos Carlos e Marcos Terena idealizaram e planejaram a realização das “Olimpíadas Indígenas”, no sentido de agregar os valores dos esportes tradicionais indígenas, já que até então nenhum trabalho desse tipo havia sido realizado de forma oficial. Durante 16 anos, os irmãos buscaram ajuda nos gabinetes dos dirigentes esportivos governamentais, levando a proposta para a criação do evento, porém nunca foram levados a sério.

Somente em 1996, com a criação do Ministério Extraordinário dos Esportes, é que a proposta foi aceita pelo então ministro Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, para a realização dos Jogos dos Povos Indígenas. O então Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto (Indesp), órgão executivo do Ministério dos Esportes, colocou Marcos Roberto e José Eduardo, assessores do referido órgão na época, à disposição do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, para juntos iniciarem os trabalhos de planejamento de ações e de recursos financeiros para a realização da primeira edição do evento.

Mesmo sem nenhuma experiência com a cultura indígena, os assessores acompanharam os irmãos Terena em visitas a diversas aldeias pelo país, a fim de delinear diretrizes e traçar objetivos para estabelecer um formato para os Jogos. As pesquisas in loco eram indispensáveis, já que um evento desse porte, com foco nos povos indígenas, jamais havia sido realizado nos cenários nacional e internacional.

Fazer com que vários povos indígenas, outrora inimigos tradicionais, se encontrassem e se conhecessem por meio de manifestações desportivas culturais milenares já não era algo utópico. Enfim, o sonho dos irmãos Terena estava perto de se tornar realidade.

Assim, na tarde de 16 de outubro de 1996, em Goiânia, representantes do povo Krahô, originário do Tocantins, friccionaram pedaços de madeira com pedra, provocando a faísca que faria nascer a primeira chama do fogo sagrado dos Jogos dos Povos Indígenas. Mais de 24 etnias e cerca de 600 participantes adentraram o estádio olímpico da cidade para as primeiras atividades. Foi ali, em Goiânia, o marco dos Jogos dos Povos Indígenas, que este ano chegam a sua 12ª edição.

Em 1997, começa uma nova batalha junto ao governo federal para dar continuidade ao projeto dos Jogos Indígenas. Depois de muita insistência e graças a uma engenharia política, os irmãos Terena convencem o então ministro do Esporte e Turismo, Rafael Greca, a realizar a segunda edição dos Jogos dos Povos Indígenas, que ocorreu na cidade de Guaíra, no Paraná, entre os dias 14 e 20 de outubro de 1999.

Com o Ministério do Esporte estabelecido como o principal patrocinador do evento, estava consolidado o sucesso dos Jogos Indígenas. A busca de outras parcerias, sempre com a orientação dos irmãos Terena, por meio do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, permitiu a realização da terceira edição, em 2000, em Marabá (PA); a quarta, em 2001, em Campo Grande (MS); a quinta, em 2002, na cidade de Marapanim (PA); a sexta, no ano de 2003, em Palmas (TO); a sétima, em 2004, em Porto Seguro (BA); a oitava, em 2005, em Fortaleza (CE); a nona, em 2007, nas cidades de Recife e Olinda, em Pernambuco; a décima, realizada em 2009 no município de Paragominas (PA); e a 11ª, em 2011, na cidade de Porto Nacional, em Tocantins.

A proposta dos Jogos dos Povos Indígenas preceitua o Art. 231, Capítulo VIII da Constituição Federal: "São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições", em consonância com a Lei 6.001 de 19 de dezembro de 1973, no seu Art. 47. "É assegurado o respeito ao patrimônio cultural das comunidades indígenas, seus valores artísticos e meios de expressão". Art. 217, inciso IV, da Constituição Federal do Brasil, que se traduz na "proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional", e ainda o Art. 31, Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, de 2007: "Os povos indígenas têm o direito a manter, controlar, proteger e desenvolver seu patrimônio cultural, seus conhecimentos tradicionais, suas expressões culturais tradicionais, esportes e os jogos tradicionais e as artes visuais e interpretativas".